No balanço do que foi para mim o ano de 2023 estão os fantásticos dias que passei em Moçambique. Cheguei a Maputo em meados de dezembro para ir passar o Natal com a minha filha, o meu genro e três dos meus sete netos e por lá permaneci até 22 de fevereiro de 2023.
Foram dias fabulosos numa cidade maravilhosa, com uma arquitetura rica, da qual destaco a série de edifícios da autoria do arquitecto Pancho Guedes. Não conheci a cidade de outros tempos, mas atualmente, custou-me ver uma cidade com uma localização tão maravilhosa estar tão suja, desorganizada e que apesar dos muitos edifícios degradados continua a ser uma cidade muito bonita.
Em Moçambique falei com o Edson Charanga, com quem, na minha passagem pela federação tinha tido vários contatos via email, e através dele cheguei ao professor António Azevedo, na esperança de tentar compreender melhor, quer o que era atualmente o minibásquete no país, quer o que ele tinha sido noutros tempos.
Através do professor António Azevedo fiquei a saber que em tempos o prof. Teotónio de Lima tinha produzido muita documentação e doutrina para a organização dos famosos torneios de minibásquete, mas infelizmente muito senão toda essa documentação teria desaparecido.
Contudo sei que, muito desse movimento era de uma enorme espontaneidade e livre da enorme carga administrativa e burocrática, que atualmente pesa sobre a atividade desportiva em geral e o minibásquete em particular. As inscrições nos torneios eram de uma enorme simplicidade, qualquer jovem um pouco mais velho, que os minis, podia apresentar-se como o treinador da sua equipa.
Tudo era de uma enorme informalidade. Apesar disso, nesses torneios nasceram imensos praticantes de enorme qualidade, que vieram alimentar os clubes e seleções nacionais no pós 25 de abril de 1974 e com a sua paixão pela modalidade e entusiasmo contribuíram para a expansão do basquetebol por muitos cantos do país.
Muito gostaria eu que fosse feito um estudo sociológico do que foi o movimento do minibásquete em Moçambique, antes do 25 de Abril de 1974, e posteriormente qual foi o papel das pessoas que regressaram a Portugal, quando o país se tornou independente, na expansão e divulgação da modalidade em cantos do país, onde a modalidade não era conhecida nem praticada.
Se estar em Maputo e visitar um pouco deste encantador país, desde a Ponta de Ouro até à ilha de Moçambique, onde filmei num "play ground" que pertencia ao Sporting Clube de Moçambique este pequeno vídeo, foram, posso dizer, as melhores férias da minha vida, por outro lado o ano de 2023 foi de uma enorme tristeza, pois três grandes figuras do basquetebol nacional oriundas de Moçambique deixaram de estar entre nós. Estou a falar e por ordem de falecimento do Rui Pinheiro, do Henrique Vieira e do Prof. Hermínio Barreto.
De todos muito poderia eu contar, mas que desculpe o meu “filho da escola”, fomos da mesma incorporação de fuzileiros, Rui Pinheiro e esse ser humano ímpar que foi o professor Hermínio Barreto. Pela temática que estou a abordar neste artigo vou centrar-me mais no caro amigo Henrique Vieira. O Henrique bebeu, como talvez poucos, o espírito dos torneios de minibásquete em Moçambique. Em longas conversas telefónicas percebi que ele queria dinamizar o minibásquete em zonas mais carenciadas e fora de toda a carga administrativa e burocrática, que o desporto federado impõe. Para o seu projeto pediu a minha colaboração, que lhe teria dado com todo o prazer.
Infelizmente com o seu falecimento não desapareceu apenas Henrique Vieira, morreu o seu projeto e espero que não tenha perecido para sempre o espírito dos torneios de minibásquete de Moçambique. Rui, Henrique e Hermínio descansem em paz, pois para mim estão sempre na minha memória.
Comentários
Gostaria de corrigir o seu último parágrafo e dizer que o projecto do Henrique, certo que feito à nossa dimensão , está a correr , de momento no Vale da Amoreira/Moita e no Catujal/Amadora numa ligação Juntas de freguesia/Escolas e a Associação HV Street Life Academy . Esperemos que o futuro nos permita levá-lo mais longe como desejado .
Como diria o Henrique
Aquele abraço