Está profusamente demonstrado que o corpo e a mente humanos, quando submetidos a estímulos extremos conseguem reagir para além dos limites normalmente considerados como razoáveis.
É um exemplo disto o conhecido facto de os mais notáveis jogadores da NBA apresentarem melhores estatísticas no Play-Off do que na fase regular. Este desempenho superior em situações limite de pressão resulta daquilo que se designa por capacidade de superação, qualidade que se desenvolve no desporto e que é de enorme importância na vida.
O Play-Off da Zona Sul do CNB1 não tem oferecido muitos confrontos equilibrados. Na 1ª eliminatória apenas o Moscavide-Belenenses se situou num plano elevado de competitividade, mas na 2ª ronda o Estoril-Academia superou todas as expectativas. Depois da vitória caseira da Academia no jogo 1 colocava-se a dúvida sobre a capacidade do mais jovem conjunto do Estoril em reagir à pressão, mas a intensidade física e emocional com que os jogos 2 e 3 foram disputados dissipou todas as dúvidas. Dois prolongamentos no sábado e um no domingo mostraram bem como os dois conjuntos abordaram os encontros, com uma determinação que os levou sempre a encontrar novas forças de reserva para reagir a cada situação de desvantagem. Em jogos como estes a atitude dos jogadores assume uma importância primordial face a outros factores mais racionais do jogo, e tem por isso de considerar-se como o facto mais saliente destes dois encontros a forma como os jogadores mais jovens do Estoril assumiram a responsabilidade e nunca viraram a cara à luta perante um adversário mais experiente e igualmente determinado. Na realidade a Academia não estava lá para facilitar, e de cada vez que esteve encostada às cordas conseguiu sempre ir buscar um novo fôlego para reverter a situação.
O jogo de sábado começou com predomínio dos donos da casa à custa de acerto nos triplos (3 em 6), fixando o resultado do 1º período em (13-9), mas no 2º quarto os visitantes inverteram a situação. A Academia corrigiu a defesa aos lançamentos exteriores dos estorilistas e reforçou o domínio dos ressaltos chegando ao intervalo na frente (22-27). No início da 2ª parte foi a vez do Estoril apurar a defesa, conseguindo um parcial de (10-2) que o colocou na frente do marcador. Nova reacção da Academia, que acelerou o jogo e concretizou em várias saídas rápidas para contra-ataque, deu-lhe novamente a liderança no final do 3º período (40-43). Com o aproximar do final dos 40 minutos o marcador começou a tender para o empate, mas a 7 segundos do fim os visitantes concretizaram um contra-ataque na sequência de perda de bola do Estoril ficando em vantagem por 2 pontos, e quando ainda conseguiram uma intersecção, colocando a bola fora com 1 segundo para jogar, pensou-se que já não ia haver jogo 3. O Estoril é que não esteve pelos ajustes, e esse segundo chegou-lhe para colocar a bola no cesto e levar o jogo para prolongamento (57-57). O prolongamento foi marcado por um momento de descontrolo da equipa da casa, que lhe custou duas faltas técnicas e duas expulsões. A Academia marcou 6 dos 8 lances livres e logo de seguida concretizou um triplo, ganhando uma vantagem de 7 pontos que voltava a colocar a equipa da casa numa situação muito difícil. A alma do Estoril voltou no entanto a revelar-se e a última posse de bola pertenceu de novo aos donos da casa que perdiam por 2, mas que com uma penetração bem sucedida conseguiram novo empate (71-71). Quando no final do 2º prolongamento se repetiu a situação de vantagem da Academia por 2 pontos e última posse de bola do Estoril, a hipótese de novo empate ganhou corpo, mas o conjunto da casa furou uma vez mais as previsões e concretizou, mas desta vez de triplo fechando finalmente o resultado (83-82).
Ter por 3 vezes o pássaro na mão e vê-lo escapar é um golpe violento para qualquer equipa, e a Academia não foi excepção. Como um pugilista que vai ao tapete, o conjunto do Lumiar acusou o golpe, abanou mas procurou levantar-se e voltar à luta. O 1º período do jogo 3 foi muito difícil para a Academia. Sem acertar com o cesto e a perder a luta dos ressaltos os academistas sofreram um parcial de (20-7) e pareceram à beira do KO, mas a equipa soube passar o período de sofrimento e aos poucos foi encontrando forças para reagir. No 2º quarto os visitantes minimizaram os estragos evitando pelo menos que a diferença subisse (39-26) e no 3º aproveitaram bem alguma desconcentração da defesa adversária, que exagerou um tanto nas faltas, para reduzir a diferença (54-46) com 10 pontos marcados da linha de lance livre. A perder por 8 à entrada do último quarto, a Academia estava outra vez no jogo, mas um novo bom momento do Estoril, utilizando muito bem o jogo interior, fez subir a diferença para 15 pontos. Foi a vez de se fazer sentir a alma da Academia. 3 triplos em 4 tentativas e 3 contra-ataques convertidos no 4º período reequilibraram o marcador e desta vez o Estoril não conseguiu facturar na última posse de bola, o que originou novo empate (69-69). Passar o jogo todo a ganhar e permitir o empate no último minuto foi um golpe demasiado duro para o Estoril e os zero pontos em 8 tentativas da linha de lance livre durante o prolongamento mostraram bem a quebra anímica que se apoderou da equipa da linha. Depois de tantas alternâncias de domínio, acabou finalmente a Academia por ganhar um ascendente definitivo que lhe deu a vitória no jogo (74-81) e na eliminatória.
A outra meia-final não forneceu emoção nem surpresa. Na Tapadinha frente ao Atlético o Moscavide só durou a 1ª parte e os alcantarenses fecharam a eliminatória com a 2ª vitória (71-49).
A final do Play-Off inicia-se no próximo domingo com o jogo 1 no Lumiar.
19 de Maio
- Academia-Atlético às 15:30h no Pav. da Escola Sec. do Lumiar
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