Do clinic de formação de Cantanhede 2012 como do clinic recente da ANTB ficará o registo audiovisual que cada um dos seus possuidores poderá ver e rever calmamente em sua casa.

Aqueles que neles participaram poderão fazer uma comparação com o que tinham “visto e ouvido” no local e, provavelmente, ficarão impressionados como somos capazes de ver coisas novas cada vez que revemos as mesmas imagens.

Relativamente ao clinic recente da ANTB resolvi deixar há duas semanas registo de algumas impressões neste espaço do Planetabasket. Aliás, considero que há um outro tipo de registo que é fundamental e extremamente importante, para além do audiovisual:  refiro-me ao tradicional registo escrito, com uma parte descritiva e gráficos e/ou figuras correspondentes, elaborado pelo próprio autor da comunicação, ou eventualmente por um assistente competente nesse  âmbito. Esse registo não é de todo redundante em relação ao registo audio-visual pois nele podem ser feitas considerações ou existirem pequenas diferenças de pormenor que sejam valorizadoras e esclarecedoras do que o autor quis transmitir.

Só que não foi nada disso que eu resolvi fazer aqui, agora sob o título de “Impressões sobre Cantanhede 2012”. Já que em Cantanhede os participantes/assistentes como eu, tiveram a oportunidade de apreciar e interagir com um conjunto de cinco treinadores de experiência e caraterísticas diferenciadas, embora com algumas em comum, resolvi fazer uma espécie de registo das caraterísticas que apreciei nos palestrantes, não dizendo necessariamente a quem  elas pertencem. Para os leitores eventualmente presentes será a oportunidade de fazerem um exercício de atribuição de traços.

De certo modo o computo geral a que cheguei poderá apontar para um resultado compósito que definiria um treinador ideal, que por ser ideal não existe na realidade. Um excelente treinador não tem que ter todas as possíveis qualidades de um treinador ideal. Bem pelo contrário será muito difícil encontrar alguém que reúna em nível elevado em todo este conjunto de atributos.

Mas vamos lá então ao exercício a que nos propusemos.

Desde logo verificamos um conhecimento profundo, tanto do basquetebol como daqueles a quem se destina o treino – os jogadores. E  isso foi por demais visível nos treinadores presentes que demonstraram um bom domínio do conhecimento dos fatores que anteriormente mencionamos. E além do conhecimento, foi bem visível o acreditar, a confiança no que transmitiam, chegando alguns a afirmar explicitamente essa convicção mesmo que admitam e conheçam ideias alternativas às que expuseram. Conhecimento e convicção nas ideias e nas propostas, eis dois aspectos fundamentais nos formadores presentes e um exemplo para todos os treinadores assistentes ao clinic. Sem eles qualquer treinador está desmunido para uma intervenção de qualidade. E esse conhecimento convicto, muito bem amalgamado, será talvez aquilo a que as nossas maiores referências como treinadores chamam de filosofia de treino…

Um outro aspeto absolutamente presente em todos foi a seriedade que devotavam na sua intervenção, e que se expressava tanto no que diziam como no que propunham e faziam. Esclareça-se que seriedade não implicou ausência de humor ou boa disposição. Bem pelo contrário. Vários foram os exemplos e os momentos em que alguma anedota ou uma chiste provocativo povoou as intervenções de vários dos palestrantes. Foi até uma imagem de marca de alguns. Esse humor, quando bem temperado e bem intencionado é algo muito apreciado pelos jogadores e alunos, como sabemos. É uma forma de temperar positivamente o esforço árduo que toda a empresa de treino com objectivos ambiciosos traz no seu bojo.

Evidentemente também outras duas qualidades que estão bastante interligadas - a coerência/consistência - foram apanágio de todos os formadores. Coerência entre o dito e o feito, consistência nas propostas apresentadas, que continham elementos necessários para que os objetivos fossem acompanhados dos meios da sua realização.

Outros aspetos comuns além dos que já referimos e muito transparentes nas intervenções dos formadores foram:

• a sua intervenção incisiva. Dizer claramente o que querem e corrigir logo que preciso;
• o entusiasmo (expresso nas palavras e no tom com que elas são proferidas);
• a expressividade no uso do corpo, nas expressões da cara, no tom da voz e nas múltiplas nuances utilizadas.

Há que dizer aqui, como  corolário opinativo da minha parte, que os grandes treinadores não são grandes do mesmo modo. Aliás, há condicionantes da sua personalidade que os fazem usar, as qualidades e os pontos menos fortes de que dispõem, de forma inteligente e adaptada. Também isso transpareceu em Cantanhede: por exemplo, a capacidade atlética que um conseguia colocar no gesto, ainda que mimado, era compensada com o acento tónico da voz de outro.

Por último, do ponto de vista da organização, duas qualidades me merecem sinalização, que aliás já tinham sido existentes no clinic da Amadora, duas semanas atrás:

• a pontualidade realmente existente: coisa que francamente foi respeitada, nos começos das intervenções, já que nos fins a flexibilidade em função do que havia para dizer foi valor mais alto do que o finalizar pontual;
• o espírito de sinergia: com a ANTB, em que o responsável pela ENB não se esqueceu de apelar à participação e associação, explicando os porquês da importância dos treinadores se associarem e participarem ativamente nela.