Quando em 1969, regressei à Madeira (após 9 anos de Açores), não havia basquete por aqui. Algo que eu, os manos e mais alguns, nos predispusemos a ultrapassar, para não interromper a prática
que tínhamos iniciado nas ilhas onde a influência americana tinha dado decisivo contributo para a aderência da juventude à modalidade.
A solução de recurso foi fazer umas “peladinhas” num rinque de hóquei, ao ar livre, na área onde hoje existe o Hotel Casino Park, com uma bola de “cautchu” mais própria para jogar com os pés. O movimento foi crescendo, surgiram equipas (primeiro, as femininas) e a então Associação de Desportos enquadrou a modalidade, mas inicialmente no escalão sénior e depois nos cadetes e juniores.
Não era suficiente. A maioria dos praticantes apenas gostava de fazer desporto e, por isso, praticava várias modalidades consoante a época do ano. Era preciso motivar, desde crianças, os/as futuros/as jogadores/as, criar-lhes desde cedo o “gostinho” (exclusivo) pelo basquete. E foi através da Delegação da Direção Geral dos Desportos, que enquadrava os denominados Planos de Desenvolvimento das várias modalidades, que esse trabalho foi feito. A convite do então Delegado da DGD, Prof. Fernando Ferreira, fui nomeado Coordenador do Plano.
Arranjei um grupo de colaboradores e … avançámos. Começámos por um núcleo, no Funchal, em 3 campos (muito mini) com um piso inclinado de alcatrão, onde aos sábados, recebíamos dezenas de crianças e nos empenhávamos em motivá-las para a nossa modalidade. Muitas das crianças que por ali passaram, viriam a tornar-se jogadores/as de equipas de nível nacional e alguns ainda hoje estão ligados/as à modalidade como treinadores ou dirigentes. Depois, foi a criação de mais alguns núcleos pela ilha, os convívios, etc.
E, pouco tempo depois, a organização do que, na altura, foi um enorme desafio – o Minicesto/81. Um evento com equipas do Continente e dos Açores que foi uma verdadeira festa e em que recebemos dezenas de crianças, sendo que algumas fizeram, nessa ocasião, o seu “baptismo de voo”. De vez em quando, sou abordado por alguns dos minis dessa altura (que eu já não reconheceria) e que ainda recordam essa viagem à Madeira. Esta iniciativa foi, mais tarde, assumida pela Associação de Basquete da Madeira, entretanto criada, e ainda hoje se realiza.
É por tudo isto que a minha ligação ao minibasquete é muito próxima. Ainda hoje, é das coisas que me dá mais prazer: ir a um pavilhão e vê-lo cheio de crianças, mais ou menos “atrapalhadas” com o domínio da bola e empenhadíssimas na tarefa, para elas tão difícil, de meter aquela bola tão grande e pesada, naquele cesto tão apertadinho. E, à volta, tantos pais de olhos pregados na performance dos seus rebentos, muitos recorrendo à possibilidade actual de, com os telemóveis, registar essas imagens para recordação futura. Uma verdadeira delícia.
Como eu, muitos outros (mais do que eu), pelo país fora, deram o seu contributo para o desenvolvimento do minibasquete. Para todos eles, um grande abraço e … parabéns pelos “nossos” 50 anos.
Sidónio M. V. Fernandes