Gosto de falar de situações reais, e está é uma delas. Tenho lidado com atletas de várias modalidades e idades, e existe uma percentagem surpreendente que lida com esta situação: Medo do treinador!

São atletas que não conseguem dizer o que pensam ou sentem, por medo de represálias. Ou atletas que com tanto medo de falhar, e "levar nas orelhas", bloqueiam dentro de campo e acabam por ter maus resultados.

Na Programação Neuro-Linguistica existem uma dezena de princípios pelos quais este tema é guiado. Um deles, que se poderá aplicar a este caso é "Não existem pessoas resistentes, apenas comunicadores inflexíveis." Ou seja, o facto de alguém não te querer ouvir, está relacionado com a forma como comunicas com ela.

Isto é apenas um princípio, mas que se aplica a muitos casos. Hoje gostava de aplicá-lo a este. Porque às vezes pergunto-me se é o atleta que tem medo, ou o treinador que tem atitudes que metem medo.

Mesmo sem se dar conta, no meio da emoção, do querer ganhar, e a seu ver, até para bem dos atletas que treina, o treinador diz por vezes certas frases, e faz certos gestos, que amedrontam quem as ouve.

Os atletas, principalmente de formação, sentem que os seus futuros desportivos estão nas mãos dos seus treinadores. Sentem que são bons ou deixam de ser, de acordo com o que o treinador lhes diz. Medem o seu talento de acordo com o tempo que têm dentro de campo.

Se o objetivo do treinador é motivar o seu atleta a ser melhor, há frases que acabam por ser incongruentes com essa ideia. Abaixo vou citar algumas frases que ouvi, e que alguns atletas alegam ter ouvido dos seus treinadores:

• 'Tás-te a passar?
• És burro ou quê?
• Mas tu queres jogar basquete ou ser atrasado mental?
• Achas que estás a jogar sozinho? Passa essa bola!!
• Parece que não sabem jogar!!
• Voltas a fazer isso vens para o banco!
• Não sei mais o que fazer contigo!
• Tu hoje não estás aqui!
• Às vezes não sei porque te ponho a jogar!

Enfim, podias ficar aqui o dia todo. Umas parecem mais graves que outras, e há quem ache que todas são perfeitamente aceitáveis. Bom... Para propósitos de motivação, confiança e relação entre treinador e atleta ou equipa, não são.

Explico porquê. Porque não trazem nada de positivo. Só reafirmam o erro que o atleta já sabe que cometeu. Além de se sentir mal com o erro, sente-se mal com o que ouve do seu treinador.

Encontrar frases que tragam solução, isso sim funciona. Explicar o porquê do erro, e como fazer melhor da próxima vez, também funciona. Incentivar num dia em que o atleta jogue mal também funciona.

Não quer dizer que na mesma o atleta não venha para o banco, ou não seja chamado à atenção. É a forma como se diz as coisas que pode mudar tudo.

Os atletas vêm os treinadores como pais e mães. Sim, isso mesmo. São como filhos que esperam agradar os seus pais. Aquilo que os "pais" lhe dizem, vai afetar ou melhorar a forma como eles se vêm a si mesmos.

Se tu és treinador, e não sabias como os atletas te vêm, agora já sabes. Vemos como um mentor, um guia, como um feedback do universo a dizer-me se serei bom ou não, se tenho futuro ou não.

Falo também por experiência própria, pela de colegas, e pela de clientes de coaching. Queremos chegar ao fim do treino e do jogo e ouvir uma palavra do nosso treinador. Essa palavra determina como me vou sentir relativamente a mim mesmo como atleta. Se desisto ou continuo. Se tenho iniciativa ou se me deixo amedrontar no próximo desafio.

Para quem diz que a culpa de muita coisa é do treinador, não concordo! Apenas acho que ele tem um grande poder de fazer a diferença. E pode começar agora.

Até para a semana!