Nos meus tempos de criança brincava muito nas ruas. A “peladinha” de futebol era uma das brincadeiras preferidas, pela maioria dos rapazes. Contudo esta actividade, organizada pelas próprias crianças, implicava duas “angústias”,
não sermos apanhados pela polícia, pois era proibido jogar na rua e termos a certeza que na selecção das equipas, feitas normalmente pelos mais velhos, eramos escolhidos. Quando não era escolhido ficava a ver o jogo à espera que alguém, pelas mais variadas razões, tivesse ou quisesse sair para eu poder entrar. Estes jogos de rua, o saber esperar a oportunidade, fizeram parte do meu crescimento.
Hoje em dia há entre alguns pais que acompanham os seus filhos nas actividades desportivas, nomeadamente nos clubes que tem mais do que uma equipa por escalão, as equipas A, B e C, um excesso de angústia sobre em que equipa o seu filho vai ficar. Um excesso de angústia sobre se o meu filho é ou não convocado para o jogo. Um excesso de angústia sobre o que os pais, e não os seus filhos, consideram que estes são capazes de fazer.
A angústia destes pais, apenas vai aumentar e potenciar as angústias dos seus filhos. Em vez de ensinarem, que saber lidar com as dificuldades, com as contrariedades é um ato de inteligência, é algo que mais cedo ou mais tarde vão ter que saber resolver, e isto, durante toda a sua vida, querem solucionar “as pequenas contrariedades” dos seus filhos pondo pressão sobre os treinadores para ficarem na equipa A em vez de ficarem na equipa B ou C, para serem convocados para o jogo ou para jogarem mais tempo.
Reconheço, que para todos os efeitos, estas situações são muitas vezes delicadas e sensíveis e que podem levar ao abandono da prática. Saber gerir as expectativas das crianças nem sempre é tarefa fácil, mas seria certamente mais fácil, se os treinadores tivessem apenas centrados em resolver as dificuldades das crianças e não tivessem que levar em conta as angústias dos pais, que apenas potenciam o problema.