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altEsta entrevista foi feita em 18 de Março de 2021, ainda não se sabia do regresso do Miguel Maria a Portugal para jogar no Sporting. Vários motivos que agora não vem ao caso, adiaram a sua publicação.

O desafio que deixamos é o de as diferenças pensarem nas diferenças entre a formação na Islândia e Portugal.

Como é que a Islândia, pais com apenas 350.000 habitantes alcança os resultados desportivos em modalidades colectivas como o andebol, futebol e basquetebol foi sempre um facto que me fascinou. Aproveitando o facto do Miguel Maria Cardoso estar a jogar na Islândia resolvi perguntar-lhe se estaria disponível para uma entrevista em que falaria, não apenas da sua experiência, como também da organização desportiva do país. Com a sua habitual simpatia o Miguel Maria aceitou o meu desafio.


1. Em primeiro lugar gostaríamos de saber como surgiu a oportunidade de jogar na Islândia e como está a decorrer, nestes difíceis tempos, esta nova experiência na tua carreira?
A oportunidade jogar na Islândia surgiu no ano passado durante a pandemia. Tinha contacto com algumas equipas no estrangeiro, mas acabei por não chegar a acordo. Ia casar em Junho, mas tive que adiar para Outubro. Tudo isso atrasou o começo da minha época desportiva. Quando surgiu a oportunidade de jogar e viver na Islândia, a minha mulher e eu adoramos a ideia. Sempre tive o desejo de viver nos países nórdicos, e poder faze-lo na Islândia foi algo pelo qual estou muito grato. Foi uma experiência fantástica a todos os níveis. Infelizmente em termos desportivos não acabou como desejávamos, mas retiro acima de tudo a fantástica experiência humana que tivemos a oportunidade de viver!

Resolvida a nossa curiosidade gostaríamos, que dentro do teu conhecimento da realidade do país, nos respondesses a uma série de perguntas todas interligadas uma com as outras e que certamente contribuem para o sucesso desportivo da Islândia.

2. Qual é horário escolar das crianças e jovens? E qual é o horário de frequência do prática desportiva fora do horário escolar?
Na Islândia, a prática de exercício é algo que faz parte da cultura deles. Independentemente de estar a nevar, estarem -20 graus, estar sol ou ser escuro as 11h da manhã. Não há desculpas, há soluções. Em termos escolares, a verdade é que pelo que eu me apercebi toda a gente termina a escola o mais tardar 13.30/14h. A partir dai dirigem-se para os complexos desportivos das equipas e começam os treinos.  Os mais novos treinam mais cedo, nunca ficam a treinar até tarde. Tudo e extremamente organizado, a articulação da escola com a atividade desportiva.

3. A partir de que idade é dada a disciplina de educação física nas escolas e qual a carga horária semanal, nomeadamente no jardim de infância até aos 5 anos, 1º ciclo até aos 10, 12 anos e 2º ciclo até aos 16 anos?
Em relação às horas de educação física, não sei o número exato. Sei que é a consideram extremamente importante, desde o jardim de infância até ao 12 ano! O desporto é algo que os islandeses apreciam e dão muito valor. A educação física tem a mesma carga horária e importância que outras disciplinas.

4. Como estão organizadas as competições e os escalões etários na formação?
Em termos de competição funciona tudo em termos nacionais. É um pais pequeno e muito organizado. Há competições mistas, principalmente no futebol, o desporto mais praticado na Islândia, sendo que o basquetebol e o andebol começam a ganhar também muita força também. Crianças e jovens que não pratiquem desporto são casos raros na Islândia. Em termos de desporto, os responsáveis pela equipa onde eu jogava, o Valur, não dispensavam nenhum jovem , seja de que idade que fossem. Eles dizem que um pais com tão poucos habitantes não se pode dar ao luxo de dispensar alguém com 10, 11, 12 anos, por naquele momento não ser o melhor jogador da sua idade, ou apresentar uma constituição física não muito apropriada para a prática desportiva. Nunca se sabe o que esses jogadores e pessoas se podem tornar dali a uns anos. Há vários escalões que tem equipas a, b, c, d, e ... Utilizam toda a “matéria prima” que têm, e treinam ao máximo.

5. Há duas estruturas organizativas separadas: desporto escolar e desporto federado?
Acredito que sim, acho que há competições entre escolas e competições entre os clubes, mas são competições diferentes.

6. Por serem tão poucos, na Islândia não deve ser fácil a gestão dos recursos humanos, quem são os treinadores dos escalões de formação e qual a sua remuneração?
Há muitos treinadores nos escalões de formação, muitos mesmo. Todos os trabalhos na Islândia são bem pagos. Os treinadores de formação são profissionais, dedicam-se 100% ao desenvolvimento dos jogadores jovens.

7. Há falta de árbitros para as competições juvenis na Islândia? No caso de haver falta de árbitros quais são as soluções encontradas?
Foi algo que reparei .. nos escalões jovens muitas vezes são atletas mais velhos que arbitram, ou treinadores de outros escalões. Tem que se organizar da melhor maneira possível.

8. Em conversa telefónica disseste-me que um treinador de futebol te teria dito, que somos tão poucos, que não nos podemos de dar ao luxo de dispensar ninguém. Como são motivados os jovens com menor talento e há a possibilidade de estarem ligados a mais do que uma modalidade em simultâneo?
Sim, essa é a realidade. Sim como há referi ninguém é dispensado. Há várias equipas no mesmo escalão no mesmo clube. Os jovens lutam pela sua oportunidade, todos eles competem e tem a oportunidade de se tornarem jogadores. Ao seu dispor tem excelentes condições que existem. Sim, existem jovens que jogam mais que um desporto.

9. Não sei se queres acrescentar alguma informação que possa ser importante para a compreensão do sucesso desportivo islandês?
Acima de tudo é a vontade e o desejo que tem de vencer e singrar na vida! São extremamente trabalhadores e como disse tem ao seu dispor condições de trabalho únicas. Só depende deles alcançarem os seus sonhos. São extremamente patriotas, quando se joga pela seleção ninguém recebe dinheiro. Eles dizem que são uma autêntica família, estão todos juntos a defender o seu país e lutar pela vitória sempre.

10. Esclarecida a nossa curiosidade, voltemos a falar de ti, como estás a olhar para o atual momento do basquetebol em Portugal e quais são as tuas expectativas para o futuro?
O Basquetebol português está a crescer, cada vez mais as equipas conseguem cativar jogadores de grande qualidade . Um campeonato cada vez mais equilibrado, e com várias equipas a lutarem pelos títulos!

11. Finalmente terminamos com a nossa pergunta habitual que pergunta gostarias que te fizessem e que resposta darias?
Não vou fazer uma pergunta, simplesmente deixar uma mensagem a todos os leitores para não deixarem de sonhar, pois tudo está ao nosso alcance e que precisamos de acreditar sempre em nós. A nossa capacidade de superação e enorme!

 

 


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